Cordel Feminista

Foto: ANEL
Foto: ANEL

Eu não consigo entender

Essa tal filosofia

Que me impede de fazer

Aquilo que eu pretendia

Que me chama de bandida,

Que me deixa oprimida,

Que me nega autonomia.

Sou uma mulher muito forte

Vivo a vida dirigindo

E assuntos de toda sorte,

Estou sempre decidindo.

Só que quando é sobre mim,

Sobre meu corpo e meu fim

Há o mundo me impedindo.

Eu custei a entender

Que a liberdade é negada

A toda e qualquer mulher

Que não quer ser sujeitada

Que abre a boca e grita

Que ‘nunca será bandida’

Por uma decisão tomada.

Já fui criminalizada

Tive a face apedrejada

Só por tentar exercer

O direito que penso ter

De cessar minha gravidez

De modo seguro e cortês

Sem ser presa nem morrer.

Mas não há cidadania

Há apenas sujeição

Pra aquela que contraria

Moral e religião

É como se a biologia

Fosse a ideologia

Que embasa a Criação.

Minhas companheiras morreram

Em abortos clandestinos

E se não tivessem partido

Quais seriam seus destinos?

A morte de coração

Dentro de qualquer prisão

Por julgamentos divinos.

Nós, mulheres, precisamos

Pensar coletivamente

Que a guerra que enfrentamos

No passado e no presente

É o quadro cultural

Machista e patriarcal

Que ainda é evidente

Quero poder decidir

Sobre minha vida e meu corpo

Ter liberdade de agir

De optar pelo aborto

De modo decente e seguro

Sem estar em cima do muro

E sem ver o meu corpo morto.

Exijo dignidade

Poder ter cidadania

Tendo a possibilidade

De uma existência sadia

Mas me pergunto, num canto,

Por que incomoda tanto

A nossa autonomia?

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clarissa-alves

Clarissa é professora e doutoranda na área de direitos humanos e desenvolvimento. Pesquisa feminismo, migrações e relações de trabalho. Se calhar, está disposta a largar a academia e viver de sua arte.

Artecétera

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