Não volta, Belchior

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Belchior,

Agora que você completou setenta anos de sangue, de sonho e de América do Sul, tem uma gente jovem reunida que anda por aí pedindo nessa tal internete – a nova Madame Frigidaire pós-moderna – que você volte, apareça, sei lá, dê um tchauzinho.

A priori, também pedi isso. Mas eu vos direi, no entanto, pensando bem, melhor não. Bote fé nessa carta de fã que eu digo porquê.

Fica por aí mesmo. As coisas por cá não andam boas. Sou capaz de jurar que, se voltasse, você iria continuar desnorteado, como era comum no seu tempo. O desespero, Bel, ainda é moda em 2016!

Você pode até dizer que eu estou por fora ou que estou inventando, mas juro que não tô, não. É que apareceram aí com umas paradas escrotas de “Escola Sem Partido”, “PEC 241” e impeachment sem crime de responsabilidade que dão medo, medo, medo…

Vou te contar, Antônio Carlos, essas coisas nos deixam meio cansados de não poder falar palavra, sob pena de sermos considerados subversivos como nossos pais eram quando havia galos, noites e quintais…

Minha dor, Bigode, é perceber que apesar de termos feito tudo, tudo que fizemos, ainda há quem tenha saudade da ditadura, que aplaude prisão sem trânsito em julgado de sentença e que acha que justiça seletiva é pra ser celebrada! Tá tudo como o diabo gosta!

Temos sangrado demais diante dessa tristeza toda e, por isso, acho que só nos resta pedir ao bom Deus que nos ajude, porque veio o tempo negro e, à força, fez com a gente o mal que, à força, sempre faz.

A gente só queria ser anjo, herói, prometeu, poeta e dançarino, mas andamos mais angustiados que o goleiro na hora do gol e, cá entre nós, um analista amigo meu disse que, a continuar desse jeito, você não iria viver satisfeito se voltasse, não.

Aliás, talvez tenha sido por isso mesmo que você sumiu, né?

Antecipou bem, triste admitir.

Volta não, Belchior.

 

 

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olimpio-rocha

Nas horas não vagas, é advogado popular, professor universitário e trocador do botijão de água mineral. Nas vagas, vagueia.

Artecétera

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