Velozes e preconceituosos?

Foto: Açores 9
Foto: Açores 9

Tendo ouvido falar de uma promoção de baixa de preços, estivemos, Paloma*​ e eu, neste fim de semana, em uma concessionária de veículos da cidade que, além das ofertas, promovia test-drive especial com um de seus novos modelos, considerado esportivo, arrojado e “pra quem gosta de carros.”

Referido teste consistia na possibilidade de, em área segura do bairro, acelerar o carro até mais de cento e tantos quilômetros por hora e fazer curvas bem fechadas para, se bem recordo, testar a capacidade do motor, dos freios e, no mais, sentir uma tal adrenalina que somente aquela montadora, com aquele veículo, poderia proporcionar ao condutor brasileiro.

Fato é que, sobre o assunto, além do básico, que inclui quando levar para revisão, o que deve ser trocado “y otras cositas más”, o que sei, no máximo, é o nome do meu carro mas, mesmo assim, ainda o confundo com a marca. Paloma, por sua vez, é mais entendida. Gosta do tema e sabe de especificações automobilísticas que ignoro totalmente.

Pois bem. Ela se inscreveu no tal test-drive e eu fui de carona, na frente, junto com o vendedor, que ia atrás e que, empolgado, como não poderia deixar de ser, ia falando de todos os detalhes e vantagens do carro para mim, porque eu deveria comprá-lo, porque eu deveria também fazer o tal test-drive, porque eu ficaria super empolgado ao dirigi-lo na autoestrada etc etc etc… Enquanto ele “vendia seu peixe”, Paloma, conduzindo o veículo e que, como dito, é quem, do casal, se interessa pelo assunto, era mais ignorada que piloto japonês de fórmula um…

Depois de uma volta, paramos na concessionária e, um tanto constrangidos com a situação, agradecemos pela atenção dispensada e fomos pra casa (não sem antes petiscar um pouco do lanche gratuito que era oferecido e que mais me interessava do que todos aqueles imperdíveis detalhes do indigitado carrão, claro).

No dia seguinte, fui à feira. Enquanto escolhia algumas laranjas e maçãs, lembrei das vezes em que, tendo saído à noite, decidimos que eu seria o “motorista da rodada” e não tomaria bebida alcoólica e que, invariavelmente, se não alertássemos os garçons com antecedência, quando chegavam o baldinho de cervejas e o copo de suco, este era servido a ela e aquelas a mim. Lembrei também das vezes que discutimos se assistiríamos aos filmes épicos de que ela gosta ou aos dramalhões existenciais que eu prefiro.

Moral da história: mulheres que bebem, gostam de carros e de filmes de guerra, cuidado: podem lhe confundir com o gordinho barbudo mais próximo que, totalmente alheio à pecha que se lhe impõe, vai-lhe comprar os modess e fazer a feira (lavar os pratos, meu deus, aí é demais!) achando que está fazendo a revolução.

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*esposa do autor

olimpio-rocha

Nas horas não vagas, é advogado popular, professor universitário e trocador do botijão de água mineral. Nas vagas, vagueia.

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