O que não te contaram sobre aquela viagem

viagem braços
Foto: Catraca Livre.

Aaaaah, viajar…

Alguma coisa aconteceu nos últimos anos que viajar para o exterior se tornou algo bastante comum entre os brasileiros. E com as redes sociais, todo mundo pode visualizar isso com registros fotográficos incríveis. A intenção é compartilhar com a família e amigos esse momento tão especial. Há também quem tenha a necessidade de se afirmar perante os outros, mostrando como sua vida é maravilhosa, digna de inveja, etc e tal.

Viajar é massa! É lúdico, construtivo, abre horizontes, enche a gente de cultura. Porém, existe um lado sombrio, cheio de nuvens de fumaça que as pessoas não costumam mencionar por aí. Tudo isso pra pegar o besta, que ficou em casa, que acha que todo mundo tem a vida melhor que a sua.

Sensibilizada com você, que está sem poder viajar, está sem grana ou economizando pra uma outra coisa mais essencial, resolvi, então, compartilhar experiências não só minhas, mas também de diversas pessoas conhecidas (sem mencionar nomes, claro) que irão confortar o seu coração.

É, minha gente… Viagens podem ser muito divertidas, mas também podem ser:

1. Destruidoras de relacionamentos

Viagens podem destruir namoros, amizades; podem, sim. No primeiro caso, aqueles namoros cheios de paixão que acabaram de começar podem ser testados nesse momento em que vocês não poderão se desgrudar. A falta de intimidade não só poderá te encher de gases, mas poderá fazer com que você perceba que talvez aquela pessoa não seja tão boa companhia assim. O seu novo parceiro pode ser um ladrão de souvenirs, um unha de fome pra comprar comida, um sujismundo, um frescurento filhinho da mamãe, ou simplesmente pode ser uma pessoa de ótimo coração e comportamento exemplar, mas por algum motivo qualquer coisa que faz te dá uma vontadezinha de agredi-lo verbal e fisicamente. Aquele/a amigo/a querido/a também pode ser tudo isso, e mais, essa amizade pode dar espaço ao maior conflito existente entre companheiros de viagem: o conflito hiperativos x preguiçosos.

De um lado, os andarilhos incansáveis: passam horas andando, tiram fotos sem parar, comem num fast-food qualquer, madrugam em festas, e ainda querem acordar 7 horas da manhã pra prosseguir os passeios turísticos. De outro lado, o lado o qual me identifico (não necessariamente o melhor lado), a galera do turismo light, do turismo da paz, que não faz questão de conhecer tudo de uma vez. Gosta de sentar num banquinho, admirar a paisagem, comer uma comida típica, dormir mais de 8 horas por dia. Quando esses perfis se reúnem podem gerar brigas, desgastes. Cada um que reclame do outro defendendo a sua própria maneira de fazer turismo. Amizades são abaladas, se tiver mais gente num grupo, lados se dividem, farpas são trocadas. O negócio é torcer pra tudo voltar ao normal quando chegarem em casa.

2. Cansativas, muito cansativas

Sabe aquela foto alegre, deitada na grama, com aquele óculos Ray-Ban fashion comprado no Duty Free? Pode ter sido estrategicamente forjada para enganar você, bestalhão. Aquela alegria, aquele momento de descanso, contemplado a natureza e a arquitetura esplêndida da cidade estrangeira pode não ter passado de um intervalo de 20 segundos apenas para tirar essa foto superdivertida, que será seguida de uma jornada cansativa, de longas caminhadas, às vezes corridas para o ponto turístico mais próximo. Aquele museu bacana, cheios de obras famosas de pintores renomados, será utilizado só para ponto de descanso para ir ao banheiro, encher a garrafinha com água da pia e para tirar um cochilo em algum banquinho ou escadaria.

3. Superestimadas

Aquela cidade linda, adequada para um pertencente da elite brasileira, digna de cenário para uma novela de Manoel Carlos, nem é tão legal assim. Aquele prato típico maravilhoso? Era melhor o do restaurante que fica a poucos metros da sua casa no Brasil. Aquela obra de arte famosérrima? É pequena demais, mal deu pra chegar perto dela com toda aquela multidão a cercando. Aquela segurança toda de país desenvolvido? Ah, meu amigo, vacilou, e cadê a carteira no bolso? Cadê a bolsa, depois daquele cochilo no trem? De um tirinho na cabeça você pode até ter se livrado, agora de uma mãozinha sapeca, não estás livre, colega, em lugar algum deste mundo.

Você pode ter deixado de viver uma aventura incrível, mas também pode ter se livrado de uma grande roubada. Acorde com um sorriso no rosto pra ir à faculdade ou ao trabalho, coma o seu inhame com carne de sol e/ou ovo e/ou queijo de coalho com satisfação, poste uma foto com esse prato com cara de “nham, nham” no Instagram e mostre que a vida também pode ser gostosa na rotina.

*Publicado originalmente no yonocreopero.blogspot.com.br, em 09 de abril de 2014.

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mariana-nobrega

Mariana é doutoranda em ciências criminais e mestra em ciências jurídicas. Pesquisa sobre direitos humanos, teorias feministas e criminologia. Também é servidora pública e mais uma advogada de araque neste país de direitoloides.

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4 comentários

  1. Olá moçada! Confesso que me vi pensando algumas vezes assim como Mariana! Nem sempre sua rotina é a pior do mundo, nem sempre a vida vista perfeita do outro é modelo de felicidade para todos. Algo defendido pela mídia infelizmente! Muito legal a matéria. Até mais!

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